quinta-feira, 15 de maio de 2014

O Espetacular Homem-Aranha - A última caçada de Kraven

"Aranha! Aranha ! Viva chama que as florestas da noite inflama. Que olho ou mão imortal poderia traçar-te a horrível simetria ?"

Mais uma vez trago uma HQ do Aranha que eu acho que é uma das mais TOP´s que eu já li na vida. O ano é 1989 e uma mini-série em 3 edições abala as estruturas do então menino de 13 anos que vos escreve agora. Sério, esta época eu estava lendo melhor e começando a entender um pouco mais as coisas e ler uma história tão profunda e obscura foi mesmo muito forte. Não é apenas uma HQ em que um vilão toma o lugar do seu herói inimigo. É mais do que isso. É poesia, é propósito. Dentro da coleção da Salvat, está O Espetacular Homem-Aranha - A última caçada de Kraven é uma aventura, um arco fechado que pra mim está ao nível das grandes Graphic Novels  e mini-séries como O Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Marvels, Odisseia Cósmica, Reino do Amanhã e outras... e considerando que é do Homem-Aranha, numa fase extraordinária, época que ele estava casado a pouco tempo, enfrentando muitos conflitos internos, foi muito bem colocada. Ver a fragilidade humana dos personagens,
ver o tempo todo a poesia na cabeça do caçador, foi fantástico. Esta HQ, pra mim, coloca o Kraven numa posição que até então ele nunca esteve. Ele sempre foi fodão ( perdoe o palavrão, mas em 10 minutos pensando, não achei termo melhor ), porém aqui ele se supera de uma forma que poucos conseguiram chegar. A profundidade emocional do Sergei Kravinov ao provar pra si mesmo e pra mais ninguém que ele é melhor que sua caça é mostrada de uma forma que a gente não esperava. A HQ é toda escura, tudo acontece a noite, poucos momentos de dia, apenas o final. Todo um simbolismo envolvido. Parece que a HQ foi planejada passo a passo, cada quadro cuidadosamente pensado. Nesta mini-serie, Peter Parker usa a roupa preta, parece como se estivesse antevendo o que iria passar com o vilão, já que nesta fase ele alternava entre o vermelho e azul e o uniforme negro, pouco depois de ele ter se livrado do mesmo no laboratório do Sr. Fantástico Reed Richards. O Kraven
aparece constantemente nu, representando a necessidade de se revelar como ele realmente é. As identidades em conflito, a simbologia da Aranha como o desafio interior que todos os humanos devem sobrepujar para serem livres. A animalidade humana na forma de Rattus. Todo o instinto em forma de um personagem que não tem consciência, apenas segue seus impulsos mais íntimos sem distinguir o que faz. É muito bacana ver a mudança de expressão do Kraven durante toda a HQ, saindo do desespero e da loucura pra serenidade, pra paz, pro término de sua missão em vida. Constantemente lembrando de sua mãe, que se suicidou... dizendo toda hora " Disseram que minha mãe era insana.". Acho que é um roteiro tão bem feito e os desenhos tão condizentes que chega a ser de um brilhantismo genial. Kraven, ao final, se regozija e comemora muito, afinal tudo deu certo e o Aranha não tinha como entender, porque não viveu isso ainda. É possível sentir o respeito que ele nutre pelo Aranha. Deu pra perceber que eu acho esta publicação fantástica, né ? Demorei pra escrever sobre ela porque ela pede o tom certo.
J M DeMatteis é um grande argumentista. Ele supera nesta publicação muitos outros e na minha opinião é muito pouco reconhecido por alguns de seus trabalhos. Pensa bem no tamanho do simbolismo que ele coloca nesta edição. Leia ou releia procurando as entrelinhas, a base psicológica por trás de uma aventura onde torcemos pelo vilão, podemos nos identificar com ele, sentir como ele e ao final, até achar que em algum momento poderíamos vir a nos tornar alguém assim. Não no sentido de ser vilão, mas no sentido de descobrir que é de verdade e de ter a coragem de fazer o que é preciso pra se encontrar. É uma pena ele se suicidar no final, porém não havia forma de tornar a história mais memorável ou coerente com o decorrer dos acontecimentos. Meus cumprimentos sinceros e gratidão eterna a este grande artista.
Os desenhos de Mike Zeck eu já gosto a anos... desde Secret Wars. É possível avaliar que é um grande desenhista e contador de histórias pela sua constância no traço, o cuidado com as expressões faciais, a climatologia e sequencia de imagens para dar movimento ou dramaticidade. Nao entendo muito bem, mas não é qualquer um que consegue fazer um drama tão existencial como este te arrepiar. Os planos de sequencia dele são ótimos. Sentimos nojo do Rattus, sentimos náusea com a MJ quando ela mata o rato... tropeçamos com o Peter quando ele sai da tumba. Mike é um dos caras que eu compro revistas só por ter o nome dele. E a coloração que faz toda a diferença é de Robert McLeod. Ele sabe dar o clima certo. Muito bom.

De tudo isso eu tiro apenas que é uma revista que é obrigatória para qualquer leitor de HQ. Seja fã de DC ou de outros personagens da Marvel, A última caçada de Kraven é uma leitura fundamental e básica. Até pra não leitores, mas apaixonados por comportamento e psicologia humana vão se deliciar com a profundidade da publicação. Leia sem medo, e sem dó. Releia, reflita, pense. Seja mais como o Kraven e seja mais livre. Um épico !

Abraços emocionados do Quadrinheiro Véio.














7 comentários:

  1. Epa!!! Essa é demais mesmo!!!
    Também comprei quando foi publicada pela abril jovem, em três edições e formato americano!! (lembra desta expressão?sempre que queriam dar importância à um lançamento colocavam lá "formato americano")
    Quando me casei e me desfiz de minha coleção (não dava p encher a casa nova de gibis...rsrsrs) foi uma das ultimas que passei para frente...e me certifiquei que o futuro felizardo entendia o que estava recebendo!!heheh
    Não há o que acrescentar em sua análise amigão...p-e-r-f-e-i-t-a-!
    Só resta dizer que esta é uma daquelas edições que justificam para qualquer um o amor pelos quadrinhos!!!

    Forte abraço,

    Vagner

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    1. Oi, Vagner !! Agradeço muito seu comentário novamente !
      Rapaz, que dor no coração de desfazer desta série, hein ? Doeu em mim... hahahah...
      E realmente, esta edição justifica o amor pelos Quadrinho... Vlw !
      Abração !

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    2. ahh..faltou dizer que comprei a o lançamento da salvat e está reparada a perda de alguns anos atrás. Mas minha coleção hoje (acho que nem dá para chamar assim ainda) é bem modesta em relação ao que eu tinha...amigo, eram uns 5000 gibis!! Muito do que eu tinha vejo hoje valendo uma nota no ML...o triste é passar na biblioteca e não ter mais nada lá...

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  2. Puts!!Essa HQ eu "vi" pela primeira vez quando tinha uns 5 anos de idade,era do meu irmão e eu ficava perguntando pra ele sobre os desenhos dos quadrinhos pois não sabia nem ler ainda,foi nostalgia pura ter lido este post,parabéns ao "O Quadrinho Véio"!!

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    1. Poxa, Felipe. Me emocionei ao ler seu comentário. Eu agradeço muito que tenha compartilhado conosco ! Obrigado !! Abração !!

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    2. Opa,é Nóiiiis!!Só corrigindo;escrevi "O Quadrinho Véio" e seria "O Quadrinheiro Véio",hehe,abração!!

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