sábado, 29 de março de 2014

Watchmen

Falar sobre Watchmen não é tarefa facil pra mim. Watchmen é simplesmente uma das principais publicações dos anos 80, e é este o tom que darei neste post. Não vou ficar falando da obra hoje, do filme, e etc... mas do que foi ler Watchmen naquela época, durante a guerra fria. Durante um período de medo, quando ninguém sabia como e quando um doido poderia apertar um botão vermelho e uma guerra nuclear começar e destruir o mundo. E é neste clima que Alan Moore foi genial e escreveu sua obra prima, pra mim a mais definitiva.

Watchmen fala sobre medo, mais diretamente sobre
insegurança, sobre a paranoia que imperava sobre bomba nuclear. Não é sobre heróis, mas sobre pessoas que querem fazer a diferença, que querem salvar o mundo. Sério, gente. Nos anos 80 tudo que a gente mais via na TV era a Guerra Fria. Foi uma época de revoluções políticas no mundo todo, e a arte correspondia a isso. A arte ainda não era contaminada pelo marketing. Claro que ela queria vender, mas ela queria vender como arte e não como consumo. Havia uma preocupação em fazer estórias boas que vendessem e não estórias que vendessem muito mas não acrescentassem nada na vida das pessoas, como ocorre hoje. A arte anda tão perdida nos dias de hoje, que tudo que faz sucesso, seja HQ, cinema ou TV, nasceu antes de 1990. Podem reparar.

Tive mesmo a sorte de ter vivido e lido estes vigilantes na época em que foi feito. Por isso que Alan Moore foi contra esta série "Before Watchmen". Só entende que viveu aquilo, é uma arte vivida pra ser sentida e não apenas uma HQ a mais na banca pra nostalgicos comprar e se decepcionarem. Ou pros novos leitores, sem identidade, ficarem lendo algo feito pro dinheiro deles e não pra eles. Onde estão as estórias dos anos 2000 ? O que fala da realidade de hoje ? Não tem... o povo de hoje é mais alienado, prefere ser iludido, e deixar pros que pensam dominar o mundo atraves do consumo e do dinheiro. Paciência. Meu blog, minhas palavras, minha opinião. Mas nada disso é uma verdade absoluta, é só o que eu vejo. E na minha limitação humana posso e espero estar enganado. Discorde a vontade, mas pense sobre isso tudo que estou compartilhando com você neste momento.

Bom, dito isso, Watchmen é algo que deve ser lido e relido muitas vezes e em
várias fases da sua vida. O medo e a constante sensação de "fim de mundo" que ele projeta é muito bem feita. E isso é assim porque traduz pra HQ o sentimento dos americanos na época. Quando você vê um Dr. Manhattan surgindo, justamente como um "filho do átomo", a pura e simples personificação da insegurança mundial. A transcrição de uma consciência tão mortal e superior que mostra como somos todos pequeninos, e simbolizado pela simplicidade do átomo mais simples que é conhecido, o hidrogênio. Ele resume tudo, o quanto a existência era efemera, ao menos era como nos sentíamos. Então, temos o Comediante, o linha dura

realista, pé no chão, desesperado. O Rorschach que brilhantemente refletia o psicológico, o inconsciente coletivo na individualidade humana, fruto de toda a mudança e expectativa de morte da Guerra Fria. O genial Ozymandias simbolizando o conhecimento humano, a base de todo conhecimento egípcio que é a origem de 90% de todo conhecimento espiritual que vivemos hoje e o Coruja, o humano comum, com a humana comum, a Silk Spectre. A trama toda se resume em unir a humanidade, em fazer todo mundo entender que por mais que tudo pareça separado, aos olhos do cosmos, somos todos uma só coisa. E infelizmente é preciso um grande cataclismo pra todo mundo perceber isso, e é isso que o Ozymandias, o homem mais inteligente do mundo, percebe. E quando o "deus" Dr. Manhattan entende isso, ele mesmo aprova. Aliás, preste muita atenção na profundidade dos diálogos, todos os diálogos dizem mais do que estão dizendo.

Outra passagem muito fodastica é justamente o diálogo que o John tem com
a Laurie em Marte. A forma como ele percebe a magnificência da vida é muito linda. Um ser que pode ver tudo no universo físico percebendo que, mesmo ele, é apenas uma produção material, e que sempre haverá algo maior, algo que pra uma pessoa que dominou tudo no plano material, agora precisa, ele mesmo, entender o que é a vida e por isso opta por sair pra "criar". Olha que majestoso ? Olha a espiritualidade disso. Moore consegue isso em tudo que ele escreve. Desde Monstro do Pantano à 300. O simbolismo de um simples pedaço de vidro desmoronar uma estrutura inteira... representando a fragilidade do pensamento.

E o que dizer de Dave Gibbons ? Sério gente... o traço e as expressões dele nesta série são tão bem desenhadas, que a gente gela a espinha. Watchmen dá medo, traz reflexão... e a quantidade de simbologia presente é tão grande, que leva uma vida pra encontrar e refletir sobre todas elas. A coloração é toda fria, o tempo todo John Higgins deixou ela plana e sóbria, falando por si só. Sério, ler Watchmen e não se emocionar, não ficar pensativo, não repensar sua vida, suas escolhas e seu papel no mundo, é perder tempo. Não faça isso com você. Não a leia por ler, vá ler qualquer porcaria dos anos 2000, mas só leia Watchmen se estiver disposto a entender que HQ pode ser arte.

Se você ainda não conhece ou leu, recomendo Watchmen... aliás, não, não
recomendo não.
Creio que algumas HQs tem um conceito artístico tão ligado ao ambiente histórico, que pra entender ela na sua essência e profundidade, seria preciso ter vivido a época. O filme é muito bom, genial, mas não conseguiu transcrever isso, virou entretenimento. Aliás, como tudo que é entretenimento hoje em dia, descartável e consumível.

Era isso o que o meu xará Alan Moore queria dizer ao desaprovar a produção. Não tem nada a ver trazer Watchmen pro hoje, porque muita gente não pode entender a mensagem dele. E como artista, ele não quer só vender, ele quer ser compreendido. Ele quer que as pessoas entendam a mensagem e não apenas comprem a obra dele. Acho que o mundo precisa se tornar mais interessante de novo, ter pessoas originais fazendo suas idéias e não pensando "o que eu posso fazer que o outro possa querer". 
Bom, falei demais pro meu tamanho. Em alguns assuntos, ainda sou um "Velho Ranzinza".

Abraços do Quadrinheiro Véio.




quinta-feira, 20 de março de 2014

Capitão América - A Escolha

Olá amigos Quadrinheiros !

O post de hoje é sobre a mais recente edição da coleção oficial de Graphic Noveis Marvel da Salvat aqui no Brasil: Capitão América - A Escolha. Este é o 15o lançamento, mas é o volume 55 da coleção e mais uma vez temos uma reunião de uma mini-serie de 6 partes do soldado bandeiroso da Marvel. ( deu pra notar que não é o herói que mais simpatizo, né... ) e nesta edição podemos ver como os americanos são forjados nas guerras. Claro que sendo um personagem que é um capitão do exercito americano e que foi criado durante a guerra mundial, não teria como ser diferente. E basicamente um thriller motivacional, inspirador, com falas heroicas e idealismo puro. Bem Capitão América, bem americano. Sem vingadores ou vilões fantásticos. Apenas os humanos e suas humanices.

De modo geral eu classifico a edição como boa.
Confesso que os traços do Mitch Breitweiser não me agradaram muito, mas a coloração de Brian Reber é primorosa e perspicaz. Não que o Mitch não seja um bom artista, porque é. Seu desenho tem movimento e sentimento, mas, não sei... acho que é um lance de "gosto pessoal" mesmo. Quem sou eu pra avaliar tecnicamente, né ? O fato de eu ser um leitor a 3 décadas não quer dizer que eu entenda tecnicamente, apenas apurou meu conhecimento do que eu gosto e do que não gosto.

Como ia dizendo, a coloração é bem sombria, fria, como uma guerra tem que ser. Tons claros, azuis e beges que dão mesmo um ar de distanciamento, como se ele quisesse que participássemos mesmo de fora da estória, sem estar lá dentro. Impossível, a gente sente um no na garganta, um gosto amargo o tempo todo porque a linha que o roteirista seguiu é tão emocional que faz a gente se sentir desamparado pelo que o Capitão está vivendo, ao mesmo tempo que faz com que vivenciamos um sentimento de "caraca, não faço nem metade do que este cara faz pelos outros... que M#&%@ de ser humano eu sou."


É um roteiro que leva a gente a refletir. Tudo acontece durante a guerra do
Afeganistão, e o Capitão está morrendo e precisa escolher um sucessor. Esta é a escolha do título. Ao final, sentimos que ele está escolhendo a todos e não apenas o soldado que está com ele. O Capitão é mostrado como sendo realmente um grande soldado. Um que nunca existiu e nunca existirá, porque a dedicação dele não é humana. Mas é bonito de se ver e faz a gente se questionar porque ficamos esperando que uma pessoa seja o como Steve Rogers ao invés de todos nós nos tornarmos alguém como ele. Isso é utópico, mas imagine uma sociedade em que cada um faz o melhor possível a cada dia pra que o mundo seja melhor, utilizando de coragem, honra, lealdade e sacrifício. Pois é... pense aí.


Em alguns momentos você deseja que o livro termine logo porque o sofrimento é grande. Confesso que em certo momento a arte parou de me incomodar e eu só queria ser aliviado da angustia do soldado que o Capitão América escolheu pra ser seu substituto, a pessoa que deve sair da caverna pra descobrir quem é de verdade. David Morrell, o argumentista desta edição, mostra que entende de guerra, entende do coração e mentes de quem vai no frionte. Pra quem não sabe, nos anos 70 Morell escreveu o livro "Rambo - First Blood", que viraria filme nos anos 80. Preciso dizer mais ?

A famosa metáfora da caverna é a base da transformação que esta HQ desvela a nossa mente. Se você ver esta edição e não ficar no mínimo pensativo sobre sua atuação no mundo, talvez devesse rever seus valores e princípios. Olhar pra dentro de você e descobrir o que te faz humano. Talvez descobrir da mesma forma que o Homem Molecular aprendeu com o Dr. Destino em Secret Wars: " Seu limite é aquele que você mesmo se impôs".



Bom, é isso.
Comentem, curtam, compartilhem.
Nada do que coloco aqui é só meu. Embora divida a minha opinião, gosto de saber a opinião de vocês, gosto de que discordem de mim, de conversar, saber opiniões e percepções diferentes da minha.

Abraços do Quadrinheiro Véio.



terça-feira, 18 de março de 2014

Chico Bento: Pavor Espaciar

Olá, Quadrinheiros.

No post de hoje vou falar de um personagem que é o meu preferido do Maurício de Souza: Chico Bento. Naturalmente por eu ter vivido a vida inteira no interior de SP, e tendo meus pais mais do interior ainda, tenho muita familiaridade com as situações deste caipira apaixonante que o Mauricio criou.

E esta publicação em especial é muito legal, porque faz parte da séria Graphic MSP, na qual o Maurício convida outros artistas pra produzir hq´s com seus personagens e são lançadas em capa duro, formato de luxo. E esta em particular é mesmo muito luxuosa, não apenas pela impressão e capa, mas pela qualidade da estorinha. Pavor Espaciar é mesmo Especiar ! ( com o perdão do trocadilho... )

Uma característica muito rica do Chico Bento é sua inocência ( aliás de todos os personagens do MS, a inocência é o que faz ser "bonitinho" ) e quando o Chico e o seu primo Zé Lelé são abordados e abduzidos por alienígenas, eles não sabem nem o que pensar sobre isso. Segue-se uma hq divertida, com poucos diálogos, mas com uma arte diferenciada, linda, com movimento incrível. Realmente dá a impressão que eles se mexem.


O autor Gustavo Duarte, que também é do interior de SP, foi muito criativo e fez uma coisa que eu adoro: colocou muitas referencias a cultura pop. Podemos encontrar referências que vão desde Ultrage a Rigor e Michael Jackson até programas do History Channel e Guerra nas Estrelas, isso citando por baixo, falando pouco. A coloração é bem simples, mas os traços que são bem diferentes dos originais conquistam muito e passam o ar de "matuto". E além disso a participação do Torresmo e da Giserda são essenciais. O porquinho jogando Sabbac é hilário.



Não posso falar mais sem entregar o enredo da hq e acho que boa parte das risadas vem do inesperado e também dos clichês que são usados de forma brilhante, diferente da maioria, inusitadamente. 

Recomendo mesmo.

Abraços do Quadrinheiro Véio.





sábado, 8 de março de 2014

Motoqueiro Fantasma - Estrada para a Danação

Olá Quadrinheiros.

Perdoem esta semana sem posts, não posso nem dizer que foi por causa do Carnaval, porque não curto esta festa ridícula, mas foi por não estar com "saco" pra escrever mesmo.

Esta semana peguei minha edição da coleção Salvat, a Motoqueiro Fantasma - Estrada para a Danação e confesso que já fui muito fã das estórias do cabeça de fogo, mas havia me distanciado um pouco. Em matéria de sobrenatural sempre gostei mais da DC e na Marvel só o Motoqueiro salvava mesmo. Eis que esta edição me veio como um solapo na bochecha, porque eu realmente gostei muito. Me lembrou até os tempos bons de Spawm.
Nâo vou ficar contando a origem do personagem, acho que todo mundo já sabe que ele fez um pacto mal sucedido com Mefisto ( aliás, minha personificação do mal de HQ preferida. )
Pra começar eu não sabia que o Motoqueiro estava preso no Inferno, e pelo roteiro, já tinha 2 anos que ele andava perdido por lá. Todos os dias lutando pra fugir e todos os dias sendo destroçado pelos demônios e sendo reconstruído no dia seguinte e vivendo esta agonia.


Até que um anjo Malachi ( que me lembrou o Mal'akh do livro do Dan Brown. Mal'akh é o nome do vilão do livro "O Simbolo Perdido", e é o nome de um anjo caído ) chega e pede que ele ajude a pegar um demônio que fugiu, um tal Kazann e pra isso tiraria ele do inferno e depois de feita a missão, daria liberdade pra ele. Sempre curto estes lances de anjos contra demônios e etc... acho muito bacana, ainda mais quando colocam estes demônios como nem tão maus e burros e os anjos como nem tão bons e espertos.

Aliás, adoro quando retratam os anjos como invejosos e é o que podemos ver nesta estória. Além disso temos um Motoqueiro bem fantasmagórico, bem focado no que ele quer, falando pouco, agindo mais, só pensando na sua recompensa.
Vemos pouco de humanidade dele, exceto o principal: sua sede de liberdade !
Tem um anjo e um demônio que estão ao encalço de Kazann também. O Demonio Hoss é bem engraçado, lembra até o comportamento do Violador enquanto palhaço do Spawn, embora o visual nem tanto. Já o anjo é uma mulher de nome Rute, que bota pra quebrar. Totalmente séria e sanguinária, sai matando qualquer um pra chegar onde quer. A violência dela é impressionante. É tããão bom ver violência deste nível nas HQ´s de novo. ( heheheh ).
Escrita muito bem por Garth Ennis, o roteiro segue uma linha dramática, diálogos muito bem escritos e um humor meio escrachado, bem no estilo dele. Piadinhas dos demônios, enganações e uma boa virada no final. Só é uma pena que não seja mesmo uma Graphic Novel, mas a reunião das 6 primeiras revistas do Volume 4 de Ghost Rider. Pena porque não tem um final, apenas uma conclusão e você fica querendo saber o que acontece depois. 

De qualquer forma, vale muito a pena, até mesmo porque os desenhos de Clayton Crain são verdadeiras obras de arte, muito bem desenhados, e principalmente pintados. Todo o seu desenho é feito de modo digital, e podemos perceber isso. Eu que torço o nariz pra algumas tecnologias tenho que dar o braço a torcer porque nesta edição da coleção da Marvel o cara detona.

Recomendo a leitura, não dá vontade de largar o livro até terminar. Acho que toda HQ deveria ser assim, mexer com nosso emocional, fazer a gente torcer pelos personagens, até ficar especulando o que virá a seguir e ainda ser surpreendido no final.

Ufa !!

Abraços do Quadrinheiro Véio !