segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Capitão América: Morre uma Lenda

E aí, amigos leitores !

Capitão América, pra mim, sempre foi um herói "B". Tipo, um segundo escalão, com histórias com um nicho bem específico. Claro que ele tem uma representatividade de uma importância absurda pelo que ele representa, mas suas histórias, desde quando eu comecei a ler revistinhas, sempre foram fracas, sem empolgação, mas fieis ao ideal que ele representa, que é o sonho de liberdade americano. E só por isso, ele já tem muito mérito. Lembro me até hoje que uma das melhores histórias que eu li do bandeiroso foi justamente a participação dele na obra prima "A Queda de Murdock" do Demolidor. Quem se lembra, tem uma passagem em que ele é questionado se ainda é fiel aos EUA, e ele responde, segurando a bandeira, que é fiel ao sonho. Achei muito nobre. Aliás, ele é um personagem nobre.

Em Capitão América: Morre uma Lenda, que eu li pelo fascículo 51 da Coleção Oficial de Graphic Novels da Editora Salvat, noto que é mais um réquiem do que qualquer outra coisa. Desde a morte do Super-homem, não haviam matado um personagem icônico e importante como o foi o Capitão. E esta edição reúne a edição que ele morre e 5 edições de um tipo de 'homenagem póstuma'. E eu gosto muito destas publicações mais psicológicas, mesmo que sejam super clichês, é bacana ver a reação dos outros personagens quando perdem um dos 'deles'. Aliás, se o assunto é guerra, americano nada de braçada, né ? E quem morreu é só o simbolo maior da guerra nos quadrinhos, mesmo que não diretamente, todo mundo sabe que o Capitão América surgiu por conta da Segunda Guerra Mundial e mesmo que ele esteja diretamente simbolizando o sonho de liberdade, o 'lado certo' da guerra, outro fato comum é que em toda contenda, o lado que vence é o lado que está certo, é o lado que 'conta a história'.
Particularmente, pra mim, não existe beleza e nem vitória em uma guerra, nenhum lado vence. Vence apenas a ignorância humana. O Capitão tentava estar acima disso, mas sempre fiel ao sonho americano, o que é normal, claro... afinal, ele também representa o patriotismo americano, acho até que ele é como se fosse a materialização deste patriotismo, a forma-pensamento deste sentimento tão forte que acho que os americanos tem 'de mais' e nós brasileiros temos 'de menos'.
Retornando a HQ, o que eu achei bem criativo é o fato de as 5 revistas representarem as 5 fases do luto. Como estudei psicanálise, adorei esta referencia, porque eu pude notar nos poucos pacientes que eu atendi e no meu observar das pessoas que vivem o luto, como estas fases são reais, sejam elas transparentes, sejam elas escondidas nos comportamentos e mentes das pessoas. Cada uma destas fazes é 'meio' que representada por algum herói ligado ao Capitão, e embora todas sejam do mesmo roteirista, cada uma teve um desenhista diferente. Ainda assim, o tom emocional é o guia da publicação, o tempo todo com pesar e o Homem-Aranha sempre o mais emotivo de todos, arrasado. O que me surpreendeu foi o Wolverine. Ele não se bicava com o Capitão, mas era muito sensível o respeito que ele nutria. Era um respeito meio : Você é o que eu não posso ser, te odeio por isso, mas ao mesmo tempo te admiro. Tipo isso. Também vale notar o retorno do Gavião Arqueiro, mesmo sem revelar como isso aconteceu, já que ele morreu em "A Queda", e até as forçações de barra em alguns diálogos estão bacanas. Mas senti muito a falta do Thor... se não me engano neste período ele estava morto. ( hehehehe... mais um morto, não morto, perdido em algum lugar... )
A história se passa logo após a Guerra Civil, em que ao seu final o Capitão se entrega as autoridades e está sendo levado a um julgamento. De repente, ele leva um tiro, seguido de mais 3 tiros a queima roupa ( que não direi quem deu os tiros, pra não atrapalhar sua leitura ) e não consegue se salvar a tempo. Tipo, o cara morreu algemado, no meio da rua. O que pode ser pior pra um soldado ? Todo soldado sonha morrer na guerra, e não ali, num ataque covarde. E suas últimas palavras, como sempre, foram de um herói: Salve a multidão.
Bom, em HQ sabemos que um herói só morre se o roteirista quiser, porque tem um milhão de personagens com poderes grandes o suficiente pra salvar um herói assim, mas depois de 2 anos sabemos que ele volta. Aliás, isso perdeu a graça, né? Toda vez que alguém morre nas HQ´s a gente nem sente mais porque sabe que ele vai voltar. Aí, é que nem ver novela da Globo, você já sabe tudo que vai acontecer pelas revistas de fofoca, mas assiste mesmo assim... Então, a gente lê pela jornada e não pelo fim. No meu caso foi bem isso. E cabe um parenteses aqui: Eu li esta HQ pela primeira vez ontem a noite, mas a repercussão da morte do supersoldado em 2007 foi mundial. Como sempre falo, ler as histórias na época em que são publicadas é fundamental pro bom entendimento e vivencia do mesmo. Então, estou tendo muito cuidado com o que comento e opino aqui, porque algumas histórias fazem sentido devido ao seu contexto, como Watchman, Cavaleiro das Trevas, e etc...
O roteiro é de Jeph Loeb, a partir de uma idéia de J. Michael Straczynsi. E cada edição, como já disse, teve um desenhista. Primeiro o Lenil Yu com a Negação, Ed McGuinness desenhou a Raiva, John Romita Jr ficou com a Barganha, David Finch com a Depressão e John Cassaday finalizou com a Aceitação. De modo geral as histórias são escuras até chegar na Aceitação. Tem quadros grandes, muita emoção nos rostos, alguns diálogos inteligentes e sagazes, mas sem naquele clima de homenagem, de falar bem do cara que morreu, de resgatar momentos de seu histórico e tudo o mais. Se faz notar a ausência de vilões, e o constante clima do final da Gerra Civil, um momento do mundo super abalado por esta partição entre os heróis. E também se faz notar como o Tony é um grande babaca. Sério. 
É um roteiro clichê ? Sim, é sim. É todo um papo que cansamos de ver em outros funerais ? Sim. Vale a leitura ? Se você gosta deste tipo de material, você vai comer esta revista de colherada, porque é muito bem feita, desenhada e amarrada. O sentimento é mesmo de funeral, de luto, e acho que a gente até passa por isso junto com os personagens.

Bom, acho que é isso. Vou ficando por aqui.
Comenta aí embaixo o que você achou do funeral do bandeiroso também, tá ?

Abraços do Quadrinheiro Véio.







15 comentários:

  1. ótimo texto! Eu gostei da obra, apesar de alguns poucos detalhes terem me incomodado, como aquele cena do Wolverine buscando motivos para poder dar porrada no vilão Ossos Cruzados, quem conhece o personagem sabe que ele tah pouco se fudendo e quando opta pelo calculismo é mais esperto que isso no intento e tal, mas, de qualquer foram, valeu a pena ter lido a obra. E como tu disse, certas obras precisam de conhecimento do todo para se absolver completamente e tem muitos casos, que não é apenas no contexto do universo ficcional da estória, mas, também no história de nosso mundo real. por exemplo, novo Pacto, [cheguei a escrever sobre no meu blog], é uma outro obra com o personagem patriota que merece ser lida, pois, é muito bem escrita.
    Novamente, gostei do seu texto, eu gosto de textos assim sem aquela formalidade toda.

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    1. Oi, Bruci ! Que bacana seu comentário. Obrigado por escrever. Gosto quando amigos blogueiros comentam porque sempre acrescentam algo pra todo mundo ! Apareça sempre !
      E sobre o Wolverine, tipo... aquele deve ser um clone mal feito dele. Nunca ví ele pedindo mesmo motivo pra bater em bandido... hahaha... aquilo incomodou demais mesmo. Concordo com você ! E por favor, deixe o endereço do seu blog pra galerinha poder visitar também !
      Obrigado pela presença !
      Abraços !

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  2. Lembro de ter visto sites na internet falando dessa revista e dessa morte. Foi um grande fuzuê. Deve valer a pena conferir.

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    1. Vale a pena sim, amigo Anonimo !
      Apareça sempre e obrigado por comentar.
      Abraços !

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  3. O Gavião Arqueiro volta durante a Dinastia M, mas fica vagando pelo universo marvel e só volta pros Vingadores fora da lei depois da Guerra Civil.

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    1. Legal, Dri ! Obrigado pelo esclarecimento !!!
      Apareça sempre !
      Abraços !

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  4. Lembro que na época, a Marvel fez um memorial no próprio site da editora, mostrando uma galeria com as melhores publicações, data de nascimento e morte, com direito a lápide. E apesar de saber que ele voltaria, foi uma coisa que mexeu com todo o universo das hqs.

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    1. Também me lembro. Eu já estava bem afastado das HQ´s, mas lembro que foi pesado. E lembro que eu não fiquei nada contente, porque toda vez que matam algum personagem iconico, um alerta de "monetização forçada" pisca no meu radar... hehehe
      Obrigado por comentar, apareça sempre !

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  5. Fala Quadrinheiro!!
    Essa eu li há um tempinho nas minhas férias...e gostei bastante!! O capitão é um personagem que eu gosto bastante, mas confesso que acho mais legal sua participação no vingadores do que suas empreitadas solo.
    Quando garoto era uma compra certa os gibis do bandeiroso. Há de convir que é um personagem difícil de se abordar sem despertar o preconceito...e todos os autores que se preocupam com isso tendem a falhar na abordagem. Acho que nesse descomprometimento com o politicamente correto é que se deu o sucesso da versão ultimate e também desta série que ao meu ver não tem de se preocupar em encontrar o tom certo para não desagradar e sim em mostrar a repercussão e consequência da partida do capitão. Eu nunca tinha ouvido falar nos cinco estágios do luto e achei muito bacana esta forma de "divisão", pois pegar um elemento de estudo real e fazer aplicação contribui para que diminua a "quarta parede" nos levando para dentro da história de maneira bem natural. (hahaha quadrinho sempre será cultura!!!) E é verdade, a marvel conseguiu com guerra civil despertar todo sentimento de desprezo de nós leitores ao homem de ferro, ao mesmo tempo que a grande mídia reverencia o Tony dos cinemas!! Contraditório não é?? Por isso é MARVEL!! rsrsrsr

    Abração

    vagner

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    1. Pra variar o aprendizado nas suas respostas é enorme ! Gostei desta sua percepção, complementa a minha. Obrigado por sempre passar aqui !
      Abraços !

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  6. Thor fez uma homenagem ao Capitão na saga que ele reconstrói Asgard fazendo o mundo ficar sem comunicação por um minuto em respeito ao nobre soldado isso depois de conversar com o espírito dele perguntando se o Capitão queria que ele vingasse seus algozes. Parabéns pelo blog

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    1. Que legal, Alec ! Verdade, agora que falou eu lembro disso no "renascer dos Deuses", não é ? Obrigado por comentar e apareça sempre por aqui !
      Amigos com comentários assim só melhoram este blog, que é pra isso mesmo !
      Abraço !

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    2. Sim foi no Renascer dos Deuses sim onde o Thor tem uma conversinha com Stark sobre usar o DNA dele para fazer aquele clone em Guerra Civil. Estamos aqui p/ colaborar sempre que possível , abraços

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  7. tem alguma continuação (direta ou indireta) depois do ultimo capitulo? aquele final com o tony stark, onde ele deixa de responder quando falam que ele teria que aceitar isso agora (a morte do cap) parece que deixou uma brecha pra alguma continuação dessa história...

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    1. Teve sim. Alias, todo o universo Marvel se remodelou a partir desta "quebra" de paradigma. Afinal, o representante da ética dos heróis morreu... rs...
      Abraços !

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